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DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO AGRO ALIMENTAR
Ações de valorização dos recursos genéticos endógenos
A viabilidade económica é um dos principais fatores que influenciam a escolha das culturas. Assim, para preservar e desenvolver os recursos genéticos endógenos, é necessário potenciar as cadeias de valor associadas à utilização de espécies e variedades regionais pouco aproveitadas, gerando produtos diferenciados no mercado. Adicionalmente, o aumento de competitividade, sustentabilidade e inovação do sector Agroalimentar com base na valorização dos recursos genéticos endógenos está dependente do desenvolvimento de metodologias inovadoras com base no conceito de análise de ciclo de vida. Estas metodologias contribuem para a diminuição das incidências ambientais, para a otimização da gestão dos recursos naturais enquanto matérias-primas e para a adoção de melhores técnicas e práticas ambientais, aumentando a eficiência e diversificação energéticas. O desenvolvimento de ferramentas de ecoeficiência contribui significativamente para o ambiente e desenvolvimento sustentável ao promover uma utilização mais racional dos recursos e diminuir a produção de efluentes e resíduos, reduzindo a necessidade de investimentos e custos de operação em soluções para tratamentos de fim de linha.
Figura 1. Recursos em estudo.
Assim, torna-se crucial investir no desenvolvimento de ações de valorização dos recursos genéticos endógenos selecionados para que possam ser utilizados, não apenas no setor primário, mas também nas indústrias, cosmética, farmacêutica e de restauração, fomentando a sua procura pelos consumidores.
Uma caracterização global do potencial de valorização de um recurso genético endógeno passa pela análise extensiva e integrada das suas propriedades físicas e químicas, que lhe conferem a unicidade e a capacidade produtiva que se traduzem em valor de mercado dos produtos associados. Sendo os recursos vegetais sistemas quimicamente complexos, quer a nível da qualidade e quantidade de metabolitos produzidos, quer ao nível da sua variação sazonal e ao longo dos diferentes estádios de desenvolvimento, a bioprospecção de metabolitos com importância nutricional e funcional é fundamental, principalmente quando ainda não há um conhecimento integrado do recurso, como é o caso de alguns recursos silvestres ou outros recursos negligenciados. Para além disso, uma análise química meticulosa de um recurso permite também coletar informação relevante relativa ao seu estado nutricional, recurso a pesticidas e herbicidas ou estádio do ciclo de vida, de forma a aumentar o conhecimento do recurso genético no seu todo e a potenciar a sua rentabilidade, e consequentemente do produto a ele associado.
Caracterização de propriedades nutricionais e organoléticas dos recursos alimentares
A valorização e dinamização de um recurso endógeno implica a abordagem de múltiplas componentes. Conhecer as propriedades únicas a nível nutricional e organolético dos recursos alimentares endógenos subaproveitados constitui o primeiro passo para a sua valorização e dinamização. Para tal, a identificação e quantificação de compostos bioativos com capacidades nutracêuticas podem reforçar a importância do recurso, tanto a nível alimentar como noutras áreas de valor económico acrescentando. Em concreto, o conteúdo em polifenóis e vitaminas, associado a benefícios na saúde dos consumidores pela sua capacidade anti-inflamatória e antioxidante e pelo seu potencial enquanto agentes antidiabéticos e anti-carcinogénicos. Adicionalmente, face às crescentes infeções por bactérias multirresistentes e às limitações de alternativas terapêuticas, uma avaliação do potencial antimicrobiano como forma de identificar potenciais compostos bioativos com atividade antimicrobiana é de extrema importância a nível de saúde pública.
A definição de todos os parâmetros supracitados permitirá criar uma identidade única de cada produto, de forma a valorizá-lo tanto ao nível do seu potencial nutritivo como à sua qualidade organolética e funcional.
Figura 2. Algumas das variedades de avelã que foram caracterizadas nutricionalmente.
Valorização do potencial dos recursos genéticos endógenos como alimentos funcionais e nutracêuticos
A identificação de compostos bioativos potencialmente benéficos para a saúde não é suficiente para alegar e comprovar um impacto positivo na saúde humana. A matriz onde estes compostos estão inseridos é de elevada importância para a absorção e biodisponibilidade. A microbiota intestinal humana, composta por milhões de microrganismos, foi considerada recentemente como um “novo órgão” devido ao impacto no organismo hospedeiro. As interações complexas entre o organismo hospedeiro e a microbiota têm vindo a ser elucidadas, no entanto, a ciência ainda está longe de compreender todo o espectro desta relação e o seu papel na saúde ou na doença.
A alimentação constitui um fator primordial na modulação da composição e atividade metabólica da microbiota intestinal, nomeadamente através da presença de pré-bióticos nos alimentos. Assim, a avaliação do impacto dos produtos endógenos na composição e metabolismo da microbiota intestinal humana e o efeito cardiometabólico decorrente desta modulação poderão permitir a valorização diferencial dos produtos endógenos. Biomarcadores produzidos pela microbiota, e.g., metabolito N-óxido de trimetilamina, TMAO, que se correlaciona com o risco cardiovascular, ou os ácidos gordos de cadeia curta, os quais possuem um papel benéfico anti-inflamatório, constituem exemplos de marcadores que podem ser avaliados. A microbiota intestinal pode ser monitorizada em estudos nutricionais contemplando produtos alimentares selecionados e os parâmetros bioquímicos indicarão o seu impacto na saúde.
Figura 3. Comunicação bidirecional do eixo intestino-pulmão.
Aplicação de tecnologias de conservação pós-colheita
A conservação e preservação da qualidade dos produtos endógenos é de grande importância para prolongar o seu tempo de vida útil enquanto recursos agroalimentares. Este é um fator crucial para a preservação da qualidade do recurso após a sua colheita, que chega, deste modo, ao consumidor com a mesma qualidade com a qual foi colhido. Existem várias técnicas de conservação pós-colheita que permitem prolongar o tempo de vida útil dos produtos, sendo a utilização de baixas temperaturas a técnica mais ubiquamente utilizada. A utilização de atmosferas controladas permite modular e monitorizar os gases circundantes aos produtos alimentares, reduzindo a respiração natural e a incidência de fungos e outros problemas que podem afetar a qualidade do produto.
O estudo das melhores condições de refrigeração e controlo de atmosferas de armazenamento pós-colheita dos recursos endógenos alimentares, permitirá uma maior conservação da qualidade, aproveitamento e rendimento do produto. Estas técnicas podem também evitar a utilização de produtos químicos que poderão ser nocivos à saúde humana e ao meio ambiente. Adicionalmente, permitirão abrir portas à exportação de recursos endógenos subaproveitados de forma mais robusta e competitiva. Como consequência traduzir-se-ão positivamente na economia local, estimulando os produtores a utilizar tecnologias inovadoras.
Figura 4. Tabuleiro com castanhas marcadas
Avaliação do ciclo de vida e sustentabilidade dos recursos genéticos endógenos
A valorização dos recursos endógenos e dos produtos a eles associados passa obrigatoriamente pela sua sustentabilidade, competitividade e inovação no sector Agroalimentar. Ter uma visão sistémica do recurso endógeno é o primeiro passo para compreender a importância da sustentabilidade na produção e em toda a sua cadeia de valor.
Através da análise do ciclo de vida do produto, reconhece-se as oportunidades de intervenção reduzindo-se os impactos negativos e aumentando a eficiência no uso dos recursos naturais, com o objetivo final de proporcionar benefícios ambientais, sociais e económicos à Região Centro. A análise de todo o processo de produção dos recursos endógenos permite desenvolver metodologias inovadoras e explorar alternativas mais sustentáveis e ambientais, através de ferramentas de desenvolvimento de ecoeficiência. Assim, toda a cadeia pode ser valorizada e aproveitada, indo ao encontro dos valores da economia circular e bioeconomia, ajudando as empresas a reduzir o seu impacto no ambiente, mantendo ou até mesmo aumentando a sua competitividade e prestando um melhor serviço à população alvo.
Figura 5. Castanhas usadas para diferentes ensaios.
Esta componente tem como principal output potenciar as cadeias de valor associadas à utilização de recursos endógenos pouco aproveitados desta região, otimizando a sua disponibilidade, gerando produtos diferenciados no mercado, identificando novas aplicações e contextos de utilização, como por exemplo, alimentos funcionais inovadores, bem como implementar o desenvolvimento de ferramentas de ecoeficiência que permitam uma gestão mais criteriosa dos fatores de produção, otimizando o consumo de energia e de matérias-primas.