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Aplicação de atmosferas controladas na conservação pós colheita de castanha (cv. Martaínha)
Mário Cristóvão1, Alexandra Camelo1, Ana Martins1, Ana Resende1, Ana Silveira1, Ana Riscado1, Ana Rodrigues1, Cátia Baptista1, Guido Lopes1, Inês Brandão1,2, Helena Beato1, Luisa Paulo1, Okta Pringga2, Rita Ramos1,3 e Christophe Espírito Santo1,2
1CATAA- Associação Centro de Apoio Tecnológico Agro Alimentar de Castelo Branco, Castelo Branco; 2Universidade de Coimbra, Centro de Ecologia Funcional, Departamento de Ciências da Vida, Coimbra; 3Universidade da Beira Interior
A castanha (Castanea sativa) é um recurso endógeno com alto valor nutricional e patrimonial Portugal produziu no ano de 2021 cerca de 36 mil toneladas de castanha(1). Sendo o 7º maior produtor mundial, tendo em conta que a China arrecada 78% da produção mundial(2).
A qualidade deste fruto é determinada pelo seu tamanho, cor, sabor e forma, mas esta só é possível manter durante um período pequeno de tempo(3).
O PROBLEMA
Vários fatores influenciam a conservação da castanha, sendo o mais comum a sua associação aos frutos secos por apresentar casca rija. Este erro é crucial pois o componente em maior presença nas castanhas é a água, e estas secam muito rapidamente causando a sua depreciação (4,5). A castanha deve ser conservada domesticamente local fresco e isento de luz, industrialmente em câmaras de frio com condições de temperatura e humidade controladas.
No pós colheita o maior fator de impacto negativo são as podridões causadas por galerias de insetos (mais tarde fungos) isto ocorre, pois, a castanha é recolhida após a queda. Este contacto do fruto com o solo é a causa da maior parte das contaminações. A separação de castanha por imersão (6) em água é uma solução para minimizar este tipo de problemas sendo aconselhado nas Centrais de Armazenagem e Embalagem de castanha.
Assim sendo para o consumidor mais tempo para desfrutar da castanha. Para o produtor que tem de cumprir com as exigências de mercado e as flutuações económicas que dai advém, é importante ter uma forma de conservar a castanha mantendo ao máximo as suas propriedades.
O ESTUDO
O objetivo deste estudo é utilizar diferentes atmosferas controladas na conservação da castanha avaliando ao longo do tempo a sua evolução de forma compreender até quando é possível conservar este fruto de forma economicamente viável.
Foram utilizados dois gases, Dióxido de carbono (CO2) e Azoto (N) selecionados pela sua ocorrência natural na nossa atmosfera e pelo potencial na conservação de frutos.
Figura 1. Esquema representativo do ensaio de conservação.
Com base na literatura desenhou-se um trabalho experimental que envolve uma seleção inicial por imersão em água, um pré-tratamento de sete dias a 40% CO2 e conservação em atmosfera controlada (uma atmosfera com CO2 a 5% e O2 a 3% e uma segunda com CO2 a 15% e O2 a 3%) ao longo de 60 dias com 0±3°C a 90% humidade. Analisaram-se os parâmetros de qualidade de 60 castanhas (cv. Martaínha) individualmente a cada 15 dias: peso, cor, textura, sólidos solúveis totais, pH e acidez, análise sensorial e danos sofridos ao longo do processo.
Figura 2. Atmosfera controlada (esquerda), tabuleiro com castanha marcada (direita).
RESULTADOS
Foram individualmente pesadas e numeradas 60 castanhas por atmosfera e data de saída de forma a acompanhar a sua evolução ao longo do tempo. Segundo os resultados obtidos podemos concluir que em termos de qualidade, existem perdas ao longo do tempo atingindo o máximo de 18,2% em perda de peso e 10,5% de textura.
Figura 3. Diferença (em mm) entre a casca e o interior da castanha resultando na elasticidade da casca 7 dias (esquerda) para 60 dias (direita).
Em relação à análise sensorial a castanha foi provada no primeiro dia do ensaio de forma a poder realizar uma linha de qual seria o ponto “perfeito” do fruto e esses valores depois foram comparados com as restantes atmosferas aos 60 dias. Embora com alguma variância todas mantiveram aceitação sensorial ao longo do estudo.
Figura 4. Comparação da castanha a nível sensorial do dia de inicio do estudo (vermelho) com as restantes condições aos 60 dias.
A maior parte dos danos apresentados aos 60 dias foram a perda de água (seca) das castanhas, sendo que a presença de galerias de insetos em todas as atmosferas foi residual, não existe presença de fungos externos nem internos no final do ensaio. A ocorrência de germinação foi de 56% no controlo e nas atmosferas sem pré tratamento, já no caso das atmosferas com pré tratamento o valor desceu para 48% (5%CO2) e 36 % (15%CO2).
Figura 5. Danos na castanha: seca (esquerda), galeria de insetos (centro), germinação (direita).
CONCLUSÕES
Este é o primeiro passo para a criação de uma metodologia e para a compressão do comportamento das castanhas em atmosfera controlada, as informações obtidas neste estudo vão servir como base para o ensaio de 150 dias no presente ano.
A possibilidade de uma solução prática e viável para a conservação deste fruto pode se apresentar como solução para valorização da castanha para os produtores e benefícios para o consumidor com o aumento da qualidade do produto apresentado no mercado.
AGRADECIMENTOS
Iniciativa cofinanciada pelo Centro 2020, pelo Portugal 2020 e pela União Europeia através do FEDER. Município do Sabugal.
BIBLIOGRAFIA
1INE. (2020). Previsões Agrícolas 31 de outubro 2020. 1–6. www.ine.pt.
2FAO (2022). FAOSTAT https://www.fao.org/faostat/en/#home.
3Maresi, G., Oliveira Longa, C. M., & Turchetti, T. (2013). Brown rot on nuts of Castanea sativa Mill: An emerging disease and its causal agent. IForest, 6(5), 294–301. https://doi.org/10.3832/ifor0952-006
4Blaiotta, G., Di Capua, M., Romano, A., Coppola, R., & Aponte, M. (2014). Optimization of water curing for the preservation of chestnuts (Castanea sativa Mill.) and evaluation of microbial dynamics during process. Food Microbiology, 42, 47–55. https://doi.org/10.1016/j.fm.2014.02.009
5Jermini, M., Conedera, M., Sieber, T. N., Sassella, A., Schärer, H., Jelmini, G., & Höhn, E. (2006). Influence of fruit treatments on perishability during cold storage of sweet chestnuts. Journal of the Science of Food and Agriculture, 86(6), 877–885. https://doi.org/10.1002/jsfa.2428
6Cecchini, M., Contini, M., Massantini, R., Monarca, D., & Moscetti, R. (2011). Effects of controlled atmospheres and low temperature on storability of chestnuts manually and mechanically harvested. Postharvest Biology and Technology, 61(2–3), 131–136. https://doi.org/10.1016/j.postharvbio.2011.03.001