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CARATERIZAÇÃO DO TERRITÓRIO
Como se caracteriza o território da região Centro Interior?
Dos soutos do Sabugal aos montados de Monforte da Beira estende-se e uma paisagem dominada por uma matriz agrícola, interrompida pelo uso florestal dominante das serras da Gardunha e da Malcata. Este mosaico de paisagens (Figura 1) estrutura-se em função de diferenças de substrato (xistos, granitos, arcoses, quartzitos), bioclimáticas (mesomediterrâneo a supramediterrâneo), altimétricas (plataforma de Castelo Branco, Campina da Idanha, serras da Gardunha e da Malcata), e, por consequência, de uso do solo (desde usos tradicionais adaptados aos solos pobres e verões secos, a sistemas intensivos beneficiados pelos aproveitamentos hidroagrícolas de Idanha ou da Cova da Beira). Ao suporte biofísico que estrutura a variação da paisagem, junta-se uma dinâmica demográfica marcada pela perda populacional e uma transformação económica onde a secundarização da importância da agro-silvo-pastorícia determinou uma necessária refuncionalização dos territórios.
Figura 1. Mosaico de paisagens agrícola e florestal.
As caraterísticas biofísicas de um determinado geoespaço delimitam o potencial uso que o ser humano pode fazer do território, condicionando, assim, a função que lhe é atribuída. Os modos como os fatores naturais e antrópicos se podem conjugar traduzem-se na diversidade de paisagens, definidas por uma individualidade própria que marca a identidade de cada lugar. No entanto, as relações Homem-meio evoluem no tempo, resultado da dinâmica socioeconómica, da evolução cultural e tecnológica e do ajuste dos usos à disponibilidade de recursos, refletindo-se na paisagem (Cancela D’ Abreu et al. (coord.), 2004).
UM ESPAÇO MULTIFUNCIONAL
A transformação socioeconómica em território nacional, caraterizada por uma terciarização crescente, determinou as dinâmicas sociodemográficas e a mobilidade da população entre regiões, evidenciando as desigualdades territoriais. Os espaços de matriz rural, de posição mais excêntrica face a centros de dinamismo económico, demográfico e político, pautados por baixas densidades ficaram marcados por uma saída em massa da população para territórios de maior dinamismo (em Portugal ou no estrangeiro) que lhe garantissem melhores condições socioeconómicas.
Para além disso, a entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia ditou a perda de hegemonia da atividade agrícola nos territórios de matriz rural. A exigência de um setor mais competitivo e a integração num mercado internacional expuseram as debilidades estruturais e as dificuldades de modernização do setor primário em Portugal. Neste contexto, foram surgindo novas visões sobre a funcionalidade dos espaços rurais: deixam de ser percecionados com meros espaços produtivos e abastecedores das áreas urbanas, para serem restruturados e apreendidos como espaços multifuncionais (Figura 2) – reservas ecológicas, simbólicas e patrimoniais; espaços de turismo e lazer; espaços patrimonializados e protegidos; laboratórios educativos; espaços de perpetuação de tradições e saber-fazer de outrora; espaços de suporte às áreas urbanas para instalação de infraestruturas; espaços industriais de proximidade à matéria-prima; espaços de eventos de cultura (sub)urbana; espaços residenciais para novos e velhos rurais (Alves, 2014; Carvalho e Fernandes, 2012; Fernandes e Alves, 2015; Figueiredo, 2003).
Figura 2. Multifuncionalidade do espaço rural: a) reserva patrimonial – Torre Centum Cellas (Belmonte); b) espaço de tradições – Capeia arraiana (Sabugal); c) espaço agrícola – Cerejas (Fundão); d) espaço de suporte ao urbano – Data Center (Covilhã); e) espaço agrícola – Olival (Penamacor); f) espaço de cultura (sub)urbana – Boom Festival (Idanha-a-Nova); g) espaço industrial – indústria têxtil (Castelo Branco); h) espaço de turismo e lazer – Centro de BTT (Fundão) (Câmara Municipal de Castelo Branco, s.d.; Jacinto, A. (dir.), 2022; Município da Covilhã, 2021; Município de Belmonte, s.d; Município de Penamacor, s.d.; Município do Fundão, 2023-a; Município do Fundão, 2023-b; Município do Sabugal, s.d.).
O rural multifuncional permanece como espaço de produção agroflorestal. Porém, estas atividades centram-se, agora, numa perspetiva de valorização dos produtos de qualidade e na distinção pelo que é identitário e diferenciador, afastando-se do produto massificado. A aposta na associação produto-qualidade-origem, surge como uma estratégia de marketing dos lugares e potencializa a criação de sinergias e novas oportunidades pela introdução do ramo da investigação científica e da criação de inovação no setor agroindustrial (Fernandes e Alves, 2015).
O CONHECIMENTO DO TERRITÓRIO NA PREPARAÇÃO PARA AS NOVAS OPORTUNIDADES E OS NOVOS DESAFIOS
No último meio século, o espaço rural tem estado em transformação permanente, seja por dinâmicas regressivas, seja pela descoberta de novas funções e geração de oportunidades que estimulam novas dinâmicas sociais, económicas e demográficas. Ao mesmo tempo, a alteração das condições biofísicas, pela sua dinâmica natural ou por alguma interferência da ação humana, diferencia os recursos endógenos e os serviços do ecossistema presentes no território ao longo do tempo. E na interação Homem-meio surgem novas oportunidades, mas, também, novos desafios e vulnerabilidades. O conhecimento das caraterísticas do território, numa lógica evolutiva, torna-se, então, o ponto de partida para o entendimento de todas estas questões.
Assim, a caraterização do território onde incide o Programa Integrado de IC&DT CULTIVAR pretende:
- apresentar a área de estudo, tendo por base as suas condições biofísicas, demográficas e socioeconómicas e a sua alteração nos últimos 50 anos;
- enquadrar os recursos genéticos endógenos locais na estrutura biofísica da região e o seu potencial para as trajetórias de desenvolvimento local;
- sustentar as caraterísticas e distribuição dos serviços de ecossistemas;
- contribuir para a identificação das vulnerabilidades e ameaças presentes no território.
BIBLIOGRAFIA
Alves, C. (2014) A baixa densidade rural num contexto geográfico de fluxos e permanências: atores locais, tempos e redes. O exemplo de Foios (Sabugal). Dissertação de Mestrado em Geografia Humana, na área de especialização em Ordenamento do Território e Desenvolvimento. Coimbra: Departamento de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
Câmara Municipal de Castelo Branco (s.d.) Museu dos têxteis. https://www.cm-castelobranco.pt/visitante/rota-dos-museus/detalhe-museu/?id=4356#.
Cancela D’ Abreu, A.; Correia, T. e Oliveira, R. (coord.) (2004) Contributos para a identificação e caraterização da Paisagem em Portugal Continental. Coleção Estudos 10. Lisboa: Direção-Geral do Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano.
Carvalho, P. e Fernandes, J. (2012) Património cultural e paisagístico. Políticas, intervenções e representações. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra.
Fernandes, J. e Alves. C. (2015) Entre a harmonia e o conflito territorial: a nova ruralidade portuguesa. in Boletim Goiano de Geografia. 35(1). pp. 1-20. Disponível em: https://revistas.ufg.br/index.php/bgg/article/view/35481, consulta a 11 de agosto de 2022.
Figueiredo, E. (2003) Um rural para viver, outro para visitar: o ambiente nas estratégias de desenvolvimento para as áreas rurais. Aveiro: Universidade de Aveiro.
Jacinto, A. (dir.) (2022) Adufe. Revista Cultural de Idanha-a-Nova. n.º 30. https://www.cm-idanhanova.pt/media/353021/AF-adufe30-WEB.pdf.
Município da Covilhã (2021) Altice, Microsoft e HPE firmam parceria. Centro de dados da Covilhã acolhe oferta de ‘cloud’ híbrida inédita em Portugal. https://www.cm-covilha.pt/?cix=noticia105936&tab=794&lang=1.
Município de Belmonte (s.d.) União das Freguesias Belmonte e Colmeal da Torre. Galeria de Imagens. https://cm-belmonte.pt/freguesias/uniao-das-freguesias-belmonte-e-colmeal-da-torre/.
Município de Penamacor (s.d.) Agricultura. https://www.cm-penamacor.pt/o-concelho/economia/agricultura.
Município do Fundão (2023-a) Parque do Convento – Fundão. Fundão 365 dias à descoberta. https://visitfundao.pt/index.php/theme-features/para-descontrair/33-parques-de-lazer/245-parque-do-convento-fundao.
Município do Fundão (2023-b) 10 locais mais instagramáveis do Fundão. https://visitfundao.pt/index.php/o-fundao/10-locais-mais-istagramaveis-do-fundao.
Município do Sabugal (s.d.) Sabugal: Roteiro Turístico. https://www.cm-sabugal.pt/wp-content/uploads/Roteiro-Tur%C3%ADstico.pdf.