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CONTEÚDOS
Espécies de plantas ameaçadas na Região Centro Interior
Lopes et al. 2023
Espécies de plantas ameaçadas na Região Centro Interior
Sara Lopes1, João Loureiro1, Sílvia Castro1
1FLOWer Lab, Centre for Functional Ecology – Science for People & the Planet, Associate Laboratory TERRA, Department of Life Sciences, Universidade de Coimbra, Portugal
Atualmente, vivemos uma acentuada perda da biodiversidade causada pela perda, fragmentação e sobreexploração dos habitats, invasões biológicas e alterações climáticas. Alguns dos eventos que estão a potenciar estas alterações são, por exemplo, a crescente urbanização, a intensificação da agricultura e o consequente uso de pesticidas, a ocorrência de fenómenos climáticos cada vez mais intensos e destrutivos, a seca, os incêndios e também a desflorestação (Figura 1).
Figura 1. Eventos que potenciam a perda de biodiversidade.
Para indicar o estado de conservação da biodiversidade mundial, a UICN - União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN – International Union for Conservation of Nature), desenvolveu as Listas Vermelhas – listas de espécies e do seu estado de conservação. Estas listas são ferramentas fundamentais para a tomada de decisões relacionadas com a conservação de espécies, pois fornecem informação sobre a área ocupada pelas espécies, o tamanho das populações, o tipo de habitat, a ecologia, as principais ameaças e algumas medidas de conservação necessárias. Nestas listas, é atribuída uma categoria de ameaça a cada espécie, tendo em conta critérios como a redução populacional, distribuição geográfica, a dimensão e o declínio de populações pequenas, populações muito pequenas ou restritas e a análise quantitativa da probabilidade de extinção.
Figura 2. Categorias utilizadas na avaliação de âmbito regional (adaptado de UICN, 2017).
A nível europeu, em 2011 foi publicada a European Red List of Vascular Flora (A Lista Vermelha Europeia da Flora Vascular), listando 1826 espécies de plantas, das quais 467 são classificadas como em perigo extinção. Em Portugal, foi em 2020 que foi publicada a primeira Lista Vermelha de Flora Vascular de Portugal Continental, com informação para 630 espécies e representando um passo fundamental para a conservação das mesmas. Neste último trabalho, algumas das principais ameaças identificadas são: o continuado declínio da qualidade dos habitats causado por, por exemplo, pastoreio por bovinos, construção de parques eólicos e empreendimentos turísticos, expansão de espécies exóticas (por vezes potenciado pelos intensos e recorrentes incêndios) ou a implementação de pomares intensivos e uso de pesticidas. Para além disso, alterações dos padrões de precipitação de chuva e neve representam também uma ameaça para diferentes espécies.
Figura 3. Principais ameaças à conservação de espécies de plantas, identificadas no Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental.
Recorrendo ao portal Flora-On (www.flora-on.pt) e restringindo a pesquisa a 11 concelhos da região Centro Interior (Belmonte, Castelo Branco, Covilhã, Fundão, Gouveia, Guarda, Idanha-a-Nova, Manteigas, Penamacor, Sabugal e Seia) foi possível obter uma lista de 1466 espécies. Destas, 165 são endémicas da Península Ibérica, 17 são endémicas de Portugal Continental e 84 são espécies exóticas. Do total das espécies, 133 (9%) estão classificadas relativamente ao seu estado de ameaça (Figura 4), sendo que 68 espécies (1.5%) estão ameaçadas: 15 espécies (1%) estão classificadas como Criticamente em Perigo, 22 espécies (1.5%) estão Em perigo, 31 espécies (2.1%) são Vulneráveis, 26 espécies (1.8%) estão Quase Ameaçadas, para 36 espécies (2.5%) o estado é Pouco Preocupante e 3 espécies (0.2%) estão classificadas como tendo Informação insuficiente.
Figura 4. Percentagens de espécies de plantas da Região Centro Interior classificadas quanto ao seu estado de ameaça.
No portal da Flora-On, para as espécies classificadas quanto ao seu estado de ameaça, é possível ler a justificação da avaliação na Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental, para a qual existe também uma ligação externa que permite o acesso direto à versão online. Para além disso, este portal apresenta um mapa com a distribuição de cada espécie, tendo em conta as ocorrências reportadas ao longo de vários anos.
Apresentamos alguns dos exemplos de espécies de plantas (fotografias da Flora-On) que ocorrem na Região Centro Interior, classificadas segundo os critérios da UICN.
CRITICAMENTE EM PERIGO
Gentiana lutea subsp. lutea L., Leuzea rhaponticoides Graells, Veratrum album L
EM PERIGO
Asphodelus bento-rainhae subsp. bento-rainhae P.Silva, Aster aragonensis Asso, Silene ciliata Pourr.
VULNERÁVEL
Armeria sampaioi (Bernis) Nieto Fel.; Campanula herminii Hoffmanns. & Link; Ranunculus henriquesii Freyn
QUASE AMEAÇADA
Fritillaria nervosa subsp. nervosa Willd., Narcissus asturiensis (Jord.) Pugsley, Veronica micrantha Hoffmanns. & Link
POUCO PREOCUPANTE
Cistus ladanifer subsp. ladanifer L., Ilex aquifolium L., Viola langeana Valentine
INFORMAÇÃO INSUFICIENTE
Helianthemum apenninum subsp. apenninum (L.) Mill., Linaria diffusa Hoffmanns. & Link, Pilosella galiciana (Pau) M.Laínz
BIBLIOGRAFIA
Bilz M, Kell S P, Maxted N, Lansdown, R V. 2011. European Red List of Vascular Plants. Publications Office of European Union. http://data.iucn.org/dbtw-wpd/edocs/RL-4-016.pdf.
Carapeto A, Francisco A, Pereira P, Porto M. (eds.). 2020. Lista Vermelha da Flora Vascular de Portugal Continental. Sociedade Portuguesa de Botânica, Associação Portuguesa de Ciência da Vegetação – PHYTOS e Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (coord.). Coleção «Botânica em Português», Volume 7. Lisboa: Imprensa Nacional, 374 pp.
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Wagner, D L. 2020. Insect declines in the anthropocene. Annual Review of Entomology, 65, 457–480. https://doi.org/10.1146/annurev-ento-011019-025151
https://listavermelha-flora.pt/