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Cilindrosporiose (Blumeriella jaapii)
Daniela Figueira, Carlote Santos, Eva Garcia e Sara Rodrigues
Instituto Pedro Nunes, Laboratório de Fitossanidade, Coimbra, Portugal
A Cilindrosporiose é uma doença causada pelo fungo Blumeriella jaapii que afeta grande parte das culturas associadas ao género Prunus,como é o caso da cerejeira, ginjeira, amendoeira e pessegueiro.
Esta doença está presente por toda a Europa e América do Norte (Gleason, 2020), com elevado impacto económico para os produtores por debilitar as árvores, reduzir a quantidade e qualidade de fruto e podendo, em casos extremos, ser responsável pela destruição de grande parte da produção (Ramos, 2008).
Anos com longos períodos de chuva estão normalmente associados a manifestações exacerbadas desta doença (Gleason, 2020), mas não exclusivamente.
SINTOMATOLOGIA DA DOENÇA
A Blumeriella jaapii causa principalmente manchas foliares e, em casos de infeção severa, promove a desfoliação precoce, afetando o rendimento produtivo (Khan et al., 2016).
Inicialmente as manchas foliares são pequenas e apresentam uma coloração vermelha-violeta, que vai escurecendo com o tempo, atingindo uma tonalidade castanha (Figura 1A). Na superfície abaxial das folhas as manchas podem apresentar uma coloração branca (Figura 1B) relacionada com o desenvolvimento do conidioma do fungo (EPPO, 2004).
Figure 1. A. Evolução de sintomas de cilindrosporiose observados em folhas de ginjeira (Ramos, 2008); B. Desenvolvimento de conidioma do fungo Blumeriella jaapii na zona abaxial de folhas infetadas de cerejeira, acedido em bladmineerders.nl.
Árvores infetadas que sofrem desfoliação severa, demostram, na época seguinte, uma redução na formação de rebentos florais e consequentemente uma redução na produção de fruto. Acresce que a desfoliação prematura induz um aumento na suscetibilidade da planta, podendo causar danos graves durante invernos mais rigorosos ou até a morte da planta (Outwater et al., 2019).
EPIDEMIOLOGIA
Este fungo desenvolve-se favoravelmente com condições de temperatura entre 15–20°C e humidade elevada (EPPO, 2004), tendo a capacidade de sobreviver ao inverno nas folhas mortas caídas nos pomares. Na primavera, o fungo desenvolve estruturas reprodutoras sexuais, os apotécios que contêm no seu interior ascos produtores de ascósporos. Estes são libertados e dispersos pela água da chuva ou por ação do vento para a superfície de novas folhas, entrando através das aberturas estomáticas e causando a denominada infeção primária (Gleason, 2020). As lesões nas folhas tornam-se visíveis após 10/15 dias do início da infeção.
A infeção secundária tem origem nas lesões foliares e inicia-se com o desenvolvimento de estruturas reprodutoras assexuadas, os conídios, que produzem esporos que são dispersos para novas folhas provocando novas infeções. Este tipo de infeção é mais eficiente do que a primária uma vez que há produção de um maior número de esporos e a sua localização (folhas novas) é mais favorável à disseminação (Gleason, 2020). A produção e dispersão de esporos pode ocorrer até ao outono (EPPO, 2004).
Figura 3. Ciclo epidemiológico representativo da cilindrosporiose causada pelo fungo Blumeriella jaapii (adaptado de Gleason, 2020).
MITIGAÇÃO E CONTROLO
A estimativa do risco de desenvolvimento desta doença pode fazer-se pela medição/registo da intensidade e duração dos períodos de precipitação, de humidade e das temperaturas, uma vez que a germinação dos esporos depende da conjugação destes fatores (Ramos, 2008). Esta estimativa é fundamental para identificar os períodos mais favoráveis à sua ocorrência e adotar medidas preventivas ou mitigadoras,
A adoção de boas práticas de cultivo e a aplicação regular de fungicidas autorizados no pomar, antes e durante a época de pós-colheita, podem facilitar o controlo através da redução do inóculo do fungo. A utilização de variedades menos suscetíveis contribui para diminuir o risco de infeção (Ramos, 2008).
BIBLIOGRAFIA
EPPO (2004). EPPO Standards. Good plant protection practise. PP 2/3(1) Stone Fruits. EPPO Bulletin 34, 427-438.
Gleason, J.C. (2020). Evaluation of resistance of Blumeriella jaapii to succinate dehydrogenase inhibitor fungicides. Michigan State University.
Khan, K.A; Nabi, S.U; Khan, N.A. (2016). Identification of Cylindrosprium padi associated with leaf spot disease of cherry in Kashmir Valley, India. Journal of Phytopathology and Pest Management, 3(3), 43-56.
Outwater, C.A.; Proffer, T.J.; Rothwell, N.L.; Peng, J.; Sundin, G.W. (2019). Boscalid Resistance in Blumeriella jaapii: Distribution, Effect on Field Efficacy, and Molecular Characterization.
Ramos, A. (2008). Manual Técnico da Ginja de Óbidos e Alcobaça. Serviços Editoriais e de Publicação do IPCB.