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Contexto biofísico
As condições biofísicas de um território são determinantes em diferentes aspetos. Não só condicionam as caraterísticas dos habitats naturais, como influenciam de forma significativa os padrões de uso do solo, o que determina a estrutura e composição da paisagem. Neste contexto, é de salientar o papel das condições topográficas e climáticas. Também os solos desempenham um papel relevante, até pela diversidade de serviços ecossistémicos que providenciam. Assim, é fundamental conhecer as condições biofísicas de um território, uma vez que as mesmas contribuem de forma decisiva para definir o seu potencial.
O território em análise apresenta um gradiente altitudinal significativo, registando-se um contraste entre os setores norte e sul, variando a altitude entre os 1313 metros até áreas inferiores a 200 metros de altitude (Figura 1).
Figura 1. Mapa hipsométrico da área de incidência do Programa Integrado de IC&DT CULTIVAR (Monteiro-Henriques et al., 2016).
Uma parte significativa da área em que incide o Programa Integrado de IC&DT CULTIVAR apresenta superfícies aplanadas, de altitudes entre os 200 e os 400 metros ou entre os 400 e os 700 metros, registando valores de declives pouco acentuados (Figura 2), uma realidade favorável ao desenvolvimento da atividade agrícola.
Figura 2. Mapa de declives da área de incidência do Programa Integrado de IC&DT CULTIVAR (Monteiro-Henriques et al., 2016).
Com exceção do setor nordeste da área em estudo, onde se encontra o limite sudeste da superfície da Meseta na base da Serra da Malcata (a cerca de 900 m de altitude), a área em estudo desenvolve-se, maioritariamente, na designada plataforma da Beira Baixa ou Superfície de Castelo Branco. Trata-se de uma área aplanada (também o é a superfície da Meseta, embora com altitudes ligeiramente mais elevadas), entrecortada por alguns relevos salientes ou formas ocas. No primeiro caso, destacam-se os relevos de origem climática, talhados em granito, do tipo inselberg (Belmonte e Monsanto) ou os relevos de dureza, associados a quartzitos, como a crista quartzítica de Penha Garcia. Por sua vez, as formas ocas estão relacionadas com a tectónica fraturante. Destacam-se aqui a Cova da Beira, no setor noroeste, marcada pela erosão fluvial, e a bacia de Sarzedas, mais a sul, com a presença de depósitos arcósicos correlativos de uma grande aplanação (Lema e Rebelo, 1997).
Para além das formas ocas, a ação tectónica marca a presença de alguns relevos salientes, como é o caso do setor leste da Serra da Gardunha, situada no quadrante oeste da área de estudo. Parte do bloco sudeste da Cordilheira Central, a Serra da Gardunha, sobretudo granítica, tem o seu ponto mais elevado aos 1226 m de altitude e domina bruscamente a Cova da Beira, enquanto o contacto com a superfície de castelo Branco se faz de forma mais suave (Daveau, 2004). Neste contexto enquadra-se, ainda, a Serra da Malcata, cuja génese se associa a um soerguimento a partir da superfície da Meseta (Clamote e Salgado, 2011/12).
A tectónica é, ainda, marcante na individualização do setor sudeste da área em análise. A falha do Ponsul, em Idanha-a-Nova, marca, de forma brusca, o término da plataforma da Beira Baixa, dando início, para sul, e a menos 100 m de altitude, à superfície do Alto Alentejo, que se destaca por um aplanamento mais perfeito e pela presença de depósitos arcósitos (campinas de Idanha). Esta platitude dá lugar a uma maior ondulação do relevo em direção às escarpas do vale relativamente encaixado do rio Tejo (Lema e Rebelo, 1997).
A variação dos aspetos morfológicos atrás descritos ao longo do território em análise, associada, sobretudo, à diferença latitudinal, apresentam-se como condicionantes das condições microclimáticas, mas, também, da composição dos solos, presença de habitats e diversidade de fauna e flora que, se associam, ainda, a uma variabilidade nos usos do solo, determinando a especificidade de paisagens presentes na área em estudo.
BIBLIOGRAFIA
Clamote, V. e Salgado, T. (2011/12) A evolução da Serra da Malcata – Estudo de geomorfologia. Cadernos de Geografia. N. 30/31. Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. pp. 143-153.
Daveau, S. (2004) A cordilheira Central. in Feio, M. e Daveau, S. (org.) O relvo de Portuga: grandes unidades regionais. Vol. II. Coimbra: Associação Portuguesa de Geomorfólogos. pp. 75 – 96.
Lema, P. e Rebelo, F. (1997) Geografia de Portugal: meio físico e recursos naturais. Lisboa: Universidade Aberta.
Monteiro-Henriques, T. et al. (2016). Bioclomatological mapping tackling uncertainty propagation: application to mainland Portugal. International Journal of Climatology, 36(1): 400-411. doi:10.1002/joc.4357.