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CONTEÚDOS
Conservação e propagação de amendoeira
Lopes 2023
Prunus amygdalus Batsch e suas doenças
Rodrigues et al. 2023
O papel das infraestruturas verdes na promoção dos polinizadores e da polinização de culturas agrícolas
Castro et al. 2023
Conservação e propagação de amendoeira
Tércia Lopes
Laboratório de Biotecnologia Vegetal, CFE - Universidade de Coimbra
A amendoeira (Prunus amygdalus [syn. Prunus dulcis (Mill.) D.A.Webb]) é uma espécie nativa da Ásia Central (Kodad et al., 2021) e supõe-se ter sido introduzida em Portugal pelo povo árabe após o início da sua disseminação, por volta de 4000 a.C., tendo sido uma das primeiras espécies fruteiras a ser domesticada (Oliveira, M. e Barros, P. M., 2021). Consequência do crescente consumo deste fruto, a produção mundial de amêndoa aumentou cerca de 26% durante a última década, particularmente em países da Baía Mediterrânea, com boas condições climatéricas para a esta cultura (Kodad et al., 2019). Em Portugal, o Instituto Nacional de Estatística previa um aumento de 20% na produção de amêndoa no ano de 2022, podendo chegar às 38 mil toneladas (o valor mais alto do último século) (INE, 2021).
Face esta situação, torna-se relevante procurar entender e melhorar os sistemas de produção de amendoeira. Sendo as variedades produtivas maioritariamente propagadas assexualmente, através de enxertia, é necessário encontrar alternativas sustentáveis para a produção de enxertos, e porta-enxertos, com características agronomicamente relevantes e adaptados às condições edafoclimáticas das regiões de produção.
PROPAGAÇÃO E CONSERVAÇÃO
Uma das respostas a este desafio pode incluir o recurso a técnicas de micropropagação in vitro, que permitem a conservação e multiplicação de material vegetal selecionado, em condições fitossanitárias controladas. Entre estas técnicas, as mais utilizadas são: a propagação de meristemas axilares, a organogénese e a embriogénese somática.
Para a cultura de tecidos vegetais in vitro, estacas, ramos ou folhas são recolhidos, desinfetados superficialmente e estabelecidos in vitro, em meios de cultura de composição definida (macro e micronutrientes, vitaminas e outros compostos orgânicos, fontes de carbono e reguladores do crescimento vegetal). Os meios de cultura são esterilizados por autoclavagem e o seu pH é ajustado a valores que potenciam o desenvolvimento dos explantes in vitro (pH 5,6 – 5,8). Os meios de cultura podem ainda ser semi-sólidos, pela adição de um agente gelificante, frequentemente o agar, ou líquidos, sem adição de qualquer agente gelificante. A micropropagação em meio semi-sólido é bastante eficaz, contudo morosa, particularmente em espécies lenhosas. Assim sendo, é também possível promover o aumento de escala de propagação recorrendo a Biorreatores de Imersão Temporária (Figura 1). Não obstante, após a etapa de multiplicação de rebentos in vitro, é necessário, à posterior, induzir a rizogénese (formação de raiz) e aclimatizar as plantas (Figura 1), com o objetivo de ultrapassar as barreiras que se põe aquando da passagem do meio in vitro para ex vitro.
Figura 1. Esquema representativo de um sistema de estabelecimento e propagação in vitro através da proliferação de rebentos axilares em meios semi-sólidos e em sistemas de imersão temporária.
No âmbito do projeto CULTIVAR, foi possível estabelecer, multiplicar e conservar in vitro material vegetal selecionado de amendoeira: variedades tradicionais, variedades comerciais e porta-enxertos (tradicionais - amendoeira amarga, e comerciais - GF677). Foi também iniciado a avaliação do processo de aumento de escala de produção in vitro do porta-enxerto GF677 (híbridos Prunus persica x P. dulcis) com recurso aos biorreatores SETIS®. Nesta linha do trabalho, os objetivos de estabelecer in vitro estes materiais e otimizar as suas condições de cultura visam dar resposta à falta de disponibilidade de materiais disponíveis, particularmente no que diz respeito a variedades tradicionais que vão sendo substituídas por variedades comerciais. Assim, a aplicação destas metodologias permite, não só a propagação do material de amendoeira selecionado, como a conservação ex situ do mesmo.
Figura 2. Estabelecimento, propagação e aumento da escala de propagação de porta-enxertos de amendoeira in vitro.
Sendo a enxertia o processo de multiplicação vegetativa convencional mais utilizado nos sistemas de produção de amendoeira, os trabalhos realizados têm também o objetivo de avaliar os mecanismos moleculares que regulam:
1. O sucesso da enxertia entre diversos enxertos e porta-enxertos; para tal, estabeleceu-se um processo de microenxertia para amendoeira (Figura 3), que consiste na união in vitro de um micro-enxerto e de um micro-porta-enxerto, provenientes das variedades de interesse previamente estabelecidas in vitro.
Figura 3. Imagens representativas do processo de microenxertia de rebentos de amendoeira.
2. O sucesso do enraizamento do material micropropagado; para tal, estabeleceram-se diversos protocolos de indução do enraizamento em rebentos de amendoeiras micropropagadas (Figura 4), com avaliação do seu sucesso até à fase de aclimatização.
Figura 4. Imagens representativas da formação de raízes adventícias em rebentos de amendoeira.
BIBLIOGRAFIA
Kodad S., Melhaoui R., Hano, C., Addi, M., Sahib, N., Elamrani, A., Abid, M., Mihamou A. (2021). Effect of Culture Media and Plant Growth Regulators on Shoot Proliferation and Rooting of Internode Explants from Moroccan Native Almond (Prunus dulcis Mill.) Genotypes. Hindawi. International Journal of Agronomy. ID 9931574, 10 pages. DOI: 0.1155/2021/9931574
Oliveira, M. and Barros, P. M. (2021). Amendoeira: diversidade, adaptação e cultivo milenares. (Accessed on Janeiro 2023). Retrieved from: https://florestas.pt/conhecer/amendoeira-diversidade-adaptacao-e-cultivo-milenares/
INE (2021). Instituto Nacional de Estatística. (Accessed on April 2022). Retrieved from: https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpgid=ine_main&xpid=INE
Prunus amygdalus Batsch e suas doenças
Sara Rodrigues1, Daniela Figueira1, Eva Garcia1, Carlote Santos1 e Filipe Covelo2
1Laboratório de Fitossanidade – Instituto Pedro Nunes, 2Herbário da Universidade de Coimbra
A amendoeira, Prunus amygdalus Batsch (sinónimo de Prunus dulcis (Mill.) D.A.Webb), é uma planta da família Rosaceae, cultivada para a produção de amêndoa.
A amendoeira é encontrada, preferencialmente, em encostas, taludes, terrenos rochosos, campos de cultivo e limites de campos cultivados (Blanca & Guardia, 1998).
Esta espécie tem uma área de distribuição nativa difícil de delimitar devido ao seu cultivo durante vários séculos. Admite-se que será originária do Sudoeste da Ásia (Figura 1), e ocorre como naturalizada e cultivada na região Mediterrânica e Centro da Europa (Powo, s.d.). Em Portugal podemos encontrá-la principalmente nas regiões de Trás-os-Montes, Baixo Alentejo e Algarve (Flora-on, s.d.).
Figura 1. Distribuição mundial de Prunus avium (fonte: https://powo.science.kew.org/)
A produção de amêndoa reparte-se essencialmente por três continentes: América (45%), Europa (23%) e Ásia (21%). As amêndoas são utilizadas para fins culinários e terapêuticos. Das amêndoas são extraídos óleos e essências com propriedades medicinais e muito utilizados na indústria cosmética e na produção do licor Amaretto (Serralves, s.d.).
DESCRIÇÃO MORFOLÓGICA
A amendoeira é uma árvore de folha caduca que atinge até 8 (10) metros de altura. O ritidoma (casca do tronco) é de cor negro-purpura, que se desprende em forma de placas ao longo do tempo. Quando jovens, os ramos são pubescentes e verdes.
As folhas podem ter vários formatos, desde ovadas, oblongo-lanceoladas ou elípticas, são acuminadas, com margem crenada ou serrada, verdes e glabras em ambas as páginas. Os seus pecíolos são também glabros.
As flores aparecem solitárias ou geminadas, precoces, subsésseis, rodeadas na base por numerosas brácteas (Figura 2); com o pedicelo glabro. As pétalas são obovadas ou suborbiculares, de cor rosa-pálido ou brancas. O ovário é pubescente.
O fruto é uma drupa, com forma ovoide ou ovoide-oblongo, atenuado no ápice, comprimido lateralmente, verde-acinzentado, aveludado (Figura 2). A parte carnuda da drupa é o mesocarpo, e é coriáceo, de sabor amargo e áspero. O endocarpo é a parte mais interna, é lenhoso e protege uma semente comestível, a amêndoa (Blanca & Guardia, 1998).