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Doença do chumbo (Chondrostereum purpureum)
Daniela Figueira, Carlote Santos, Eva Garcia e Sara Rodrigues
Instituto Pedro Nunes, Laboratório de Fitossanidade, Coimbra; Herbário da Universidade de Coimbra
A Doença-do-chumbo é uma doença comum, com uma distribuição geográfica mundial (Santos et al., 2002) que afeta diversos hospedeiros lenhosos, como é o caso do género Prunus (amendoeira, pessegueiro, ameixeira, cerejeira, etc.), algumas fruteiras da família Rosaceae e várias espécies florestais (Rodrigues, 2017). O agente causal desta doença é o fungo Chondrostereum purpureum, um basidiomiceto que penetra no lenho através de feridas (Spiers & Hopcroft, 1988).
Esta doença tem um elevado impacto económico uma vez que provoca o enfraquecimento das plantas, perda de produção, fruta de baixa qualidade e calibre, tornado as plantas mais suscetíveis à infeção por outros organismos patogénicos, resultando muitas vezes na sua morte (Sofia & Franca, s.d.).
SINTOMATOLOGIA DA DOENÇA
O fungo coloniza os vasos xilémicos da zona infetada e, no decorrer do seu desenvolvimento, liberta toxinas que se espalham de forma sistémica (EPPO, 2004). A presença destas toxinas nas folhas provoca danos foliares que alteram a cor das folhas de verde para cinzento-prata (Figura 1A), sendo este um dos sintomas mais característicos desta doença. A alteração da cor deve-se à separação da camada da epiderme que influencia a cor percecionada após a reflexão da luz (Rodrigues, 2017).
Com o avançar da infeção, as folhas escurecem, enrolam-se ligeiramente e acabam por necrosar, contribuindo para a redução da atividade fotossintética, podendo provocar a morte da planta (Simpson et al., 2001; EPPO, 2004). É frequente o aparecimento de manchas castanhas de tom escuro no lenho. Nos tecidos mortos é usual a observação de basidiocarpos de aspeto coriáceo (Figura 1B) que apresentam a superfície superior de tom esbranquiçado e a superfície inferior de tonalidade cinzenta-púrpura com poros finos (Luz, 2008; Rodrigues, 2017).
A doença manifesta-se predominantemente durante o verão, contudo as épocas de elevada humidade contribuem de forma acentuada para a dispersão de esporos, o que aumenta a probabilidade de novas infeções (EPPO, 2004).
Figura 1. A. Sintomas de doença-do-chumbo observados em folhas de ameixeira; B. Basidiocarpos de Chondrostereum purpureum. Bill MacIndewar, acedido em iNaturalist.org
EPIDEMIOLOGIA
O fungo Chondrostereum purpureum pode infetar a planta em qualquer época do ano, mas é nos períodos de maior humidade e temperaturas entre os 4ºC e 21ºC que ocorre a formação de basidiocarpos (Figura 2). Os basidiocarpos (corpo frutífero do fungo) desenvolvem-se em tecidos mortos e produzem basidiósporos (inóculo primário). Os basidiósporos são libertados e transportados pelo vento e entram nos tecidos vasculares xilémicos de plantas suscetíveis através de feridas expostas (Aguiar et al., 2017).
Após a penetração nos vasos xilémicos, os esporos germinam e originam o micélio que se desenvolve e espalha pelo lenho ficando limitado aos principais ramos, tronco e raízes (Luz, 2018).
O risco de infeção aumenta quando as podas são feitas em períodos chuvosos, como o inverno e início de primavera, tornando as plantas mais suscetíveis à infeção por este organismo (Aguiar et al., 2017).
Figura 2. Ciclo epidemiológico representativo da doença do chumbo causada pelo do fungo Chondrostereum purpureum.
MITIGAÇÃO E CONTROLO
Não existem métodos curativos conhecidos, pelo que a adoção de medidas preventivas é essencial. A poda deve ser feita durante o tempo quente e seco, logo após a época de colheita e as feridas resultantes desinfetadas e protegidas (EPPO, 2004). Os ramos e árvores infetadas devem ser cortadas e eliminadas dos pomares (Circular nº1/2021, 2021).
BIBLIOGRAFIA
Aguiar, C.; Pereira, J.P.; Arrobas, M.; Almeida, A.; Bento, A.; Cortés, I.L.; Rodrigues, N.; Rodrigues, M.A.; Ribeiro, A. C.; Santos, S.; Gouveia, M.E.; Coelho, V.; Moura, L. (2017). Manual técnico amendoeira: estado da produção (Projeto “Portugal Nuts” Norte.02-0853-FEDER-000004 Centro Nacional de Competências dos Frutos Secos). CNCFS
Circular nº1/2021 de 21 de janeiro. Serviço Nacional de Avisos Agrícolas. Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte.
EPPO (2004). EPPO Standards. Good plant protection practise. PP 2/3(1) Stone Fruits. EPPO Bulletin 34, 427-438.
Luz, J.P; (2018). Agroi9 Fruticultura Nº002: Doenças do Pessegueiro. Alcobaça, Cadernos Técnicos do COTHN
Rodrigues, M. A. (2017). Amendoeira: Estado da produção. ISBN: 978-989-99857-9-7.
Santos, M.F.; Mendes, M.; Santos, C.E.; Felix, A.A. (2002). Fungos de Expressão Quarentenária para as Fruteiras de Clima Temperado no Brasil (1ª edição). Brasília, Embrapa.
Sofia, J.M.; & Franca, M.F. (s.d.). O “Chumbo” das Prunóideas. Direção Regional de Agricultura da Beira Litoral.
Simpson, R. M., Brewster, D., Christeller, J. T., & Spiers, A. G. (2001). Extracellular enzymes of Chondrostereum purpureum causal fungus of silverleaf disease. New Zealand Plant Protection, 54, 202-208.
Spiers, A.G., Hopcroft, D.H. (1988). Factors affeting Chondrostereum purpureum infection of Salix. European Journal of Forest Pathology. 18, 257-278.