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Antracnose - doenças causadas pelo género Colletotrichum
Daniela Figueira, Carlote Santos, Sara Rodrigues e Eva Garcia
Laboratório de Fitossanidade – Instituto Pedro Nunes
A antracnose, também conhecida como podridão amarga, é uma doença causada por diferentes espécies de fungos do género Colletotrichum (Dowling et al., 2020) que afetam por todo o mundo fruteiras como a cerejeira, amendoeira, ginjeira, macieira e morangueiro. Estudos recentes demonstraram a presença de múltiplas espécies deste género a infetar a mesma planta (Munir et al. 2016). Atualmente, e dada a confusão taxonómica associada ao género Colletotrichum, classificaram-se as diferentes espécies em complexos de espécies (Dowling et al., 2020). Em fruteiras, foram descritos quatro complexos de espécies responsáveis por doença: C. truncatum, C. bonisense, C. gloeosporioides e C. acutatum; contudo, os complexos de espécie C. gloeosporioides e C. acutatum são os mais relevantes (Dowling et al., 2020).
Estes fungos têm a peculiaridade de se instalar na planta sem desenvolver sintomas, sendo que os primeiros sintomas se tornam visíveis apenas na época de colheita ou na pós-colheita, o que dificulta a sua deteção precoce. Caso a doença se desenvolva durante o armazenamento, esta pode dar origem a complicações no armazenamento e venda do fruto uma vez que reduz a qualidade de fruto disponível (Børve & Stensvand, 2008), contribuindo para prejuízos económicos consideráveis.
SINTOMATOLOGIA DA DOENÇA
Os sintomas observados podem variar de acordo com o tipo de complexo de espécies presente. Por exemplo, o complexo de espécies de fungos C. gloeosporioides infeta preferencialmente folhas, pecíolos, ramos e galhos enquanto que o complexo de espécies de C. acutatum infeta preferencialmente frutos (Dowling et al., 2020).
Em fruteiras, o sintoma mais característico é o apodrecimento dos frutos como se pode observar na Figura 1.
Figura 1. Sintomas de antracnose em diferentes frutos (Dowling et al., 2020).
Nas cerejeiras, os frutos podem ser infetados em qualquer fase do seu desenvolvimento (Figura 2). Numa fase inicial do desenvolvimento do fruto, observam-se manchas necróticas que posteriormente alastram e impedem a maturação do fruto (Børve & Stensvand, 2013). Em frutos maduros, a sintomatologia é caracterizada por lesões côncavas castanho escuro que podem conter esporos de cor amarela/alaranjada de aspeto pegajoso (Figura 2d) (Børve & Stensvand, 2013).
Figura 2. Sintomas causados pela infeção por Colletotrichum spp. observados em cerejas. Adaptado de Peng et al., 2022.
Em amendoeiras (Figura 3a,b e c), os frutos numa fase desenvolvimento inicial apresentam depressões redondas de cor alaranjada/acastanhada, que se desenvolvem durantes os meses de primavera e verão, com libertação de exsudados (López-Moral et al., 2020). Em árvores severamente afetadas podem observar-se sintomas em outros órgãos da planta como: manchas necróticas nas folhas (que se iniciam nas pontas e margens e se prolongam por toda a folha), desfoliação e morte de ramos (López-Moral et al., 2020) (Figura 3d,e).
Figura 3. Sintomas de antracnose causados por Colletotrichum spp. observados em amendoeira (López-Moral et al., 2020).
EPIDEMIOLOGIA
Apesar dos avanços ao nível molecular, a sua identificação continua a ser muito difícil (Dowling et al., 2020). No entanto, a biologia e ecologia dos dois complexos de fungos apresenta diferenças relevantes, o que pode dar pistas sobre qual o complexo presente (Figura 4).
O ciclo de infeção por Colletotrichum spp. inicia-se com a introdução do organismo no pomar através de materiais de propagação ou materiais de enxertia contaminados. Durante a primavera (e por vezes no verão) o fungo desenvolve-se em condições de temperatura e humidade ótimas (Fig. 4), colonizando os tecidos da planta (Dowling et al., 2020).
O complexo C. gloeosporioides coloniza principalmente os tecidos vegetativos enquanto que o C. acutatum coloniza preferencialmente os frutos (De Silva et al., 2017).
Com o avançar da infeção, e caso o hospedeiro seja suscetível, surgem os sintomas específicos nos diferentes órgãos da planta. Nos tecidos sintomáticos (lesões) infetados por C. gloeosporioides é comum o aparecimento de estruturas sexuais produtoras de esporos (peritécio) e de estruturas assexuais (acérvulo) que são responsáveis pela produção continua de inóculo e que mantêm ativo o ciclo de novas infeções (Dowling et al., 2020). O excesso de chuva e/ou irrigação assume um papel importante na dispersão dos esporos. No caso de C. acutatum, é comum o desenvolvimento apenas das estruturas assexuadas.
Figura 4. Comparação da infeção por Colletotrichum acutatum e Colletotrichum gloeosporioides em fruteiras (Dowling et al., 2020).
Durante o inverno, ambos têm a capacidade de sobreviver à fase de dormência: C. gloeosporioides mantem-se em tecidos de lenho morto, restos de plantas e/ou hospedeiros alternativos; C. acutatum mantem-se em frutos mumificados, ramos infetados e em plantas assintomáticas (Dowling et al. 2020).
MITIGAÇÃO E CONTROLO
A adoção de práticas culturais que ajudem a reduzir o inóculo são importantes para mitigação da doença, como por exemplo: a utilização de material de trabalho desinfetado, a utilização de material vegetal de propagação certificado e um controlo apertado das condições do solo ao nível da nutrição e irrigação (Dowling et al., 2020).
Tratamentos com fungicidas à base de Ditianão contribuem para a redução da incidência da doença e são recomendados nos pomares que sejam habitualmente afetados por antracnose (Borve & Stensvand, 2006).
BIBLIOGRAFIA
Børve J., Stensvand A. (2006). Timing of fungicide applications against anthracnose in sweet and sour cherry production in Norway. Crop protection, 25, 781-787.
Børve J., Stensvand A. (2013). Colletotrichum acutatum can establish on sweet and sour cherry trees throughout the growing season. European Journal of Horticultural Science. 78, 258–266.
De Silva, D. D.; Crous, P.W.; Ades, P.K.; Hyde, K.D.; Taylor, P.W.J. (2017). Life Styles of Colletotrichum species and implications for plant biosecurity. Fungal Biology Reviews, 31, 155-168.
Dowling, M.; Peres, N.; Villani, S.; Schnabel, G. (2020). Managing Colletotrichum on fruit crops: a “complex” challenge. Plant disease, 104, 2301-2316.
López-Moral, A.; Agustí-Brisach, C.; Lovera, M.; Arquero, O.; Trapero, A. (2020). Almond anthracnose: current knowledge and future perspectives. Plants, 9, 945.
Munir, M.; Amsden, B.; Dixon, E.; Vaillancourt, L.; Gauthier, N.A.W. (2016). Characterization of Colletotrichum species causing bitter roto f apple in Kentucky orchards. Plant disease, 100, 2194-2203.