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Contexto sociodemográfico
Os territórios de baixas densidades de matriz rural, como aqueles onde se insere o Programa Integrado de IC&DT CULTIVAR, têm apresentado, de forma geral, desde meados do século XX um conjunto de tendências de evolução sociodemográfica e económica que marcam as trajetórias de desenvolvimento numa lógica de estagnação ou regressão, comparativamente com os espaços de maior urbanidade e centralidade política e socioeconómica. A emigração da população jovem e ativa, em vários ciclos, para países da América do Sul e outros países Europeus, bem como, o êxodo para a faixa litoral ocidental de Portugal continental, entre Setúbal e Viana do Castelo, que hoje concentra cerca de 2/3 da população, tornou o rural um espaço de envelhecimento precoce, despovoamento e abandono fundiário (Fernandes e Alves, 2015).
A centralidade dos espaços urbanos como áreas de maior dinamismo económico e, por isso, maior rendimento potencial para os trabalhadores, mas, também, maior acessibilidade a serviços (de saúde, educação, culturais) e bens, refletem-se numa atratividade para a fixação da população e atividades económicas que, as áreas rurais, principalmente as de posição mais excêntrica, não conseguem acompanhar. Para além da litoralização, surge, num segundo momento, uma mobilidade intrarregional e, mesmo, intraconcelhia, com a saída de novos grupos populacionais das áreas rurais, para os centros urbanos, geralmente sede de concelho.
A área em estudo, localizada no sudeste da Região Centro, enquadra-se nesse contexto de baixas densidades de matriz rural marcado pelas dinâmicas sociodemográficas atrás evidenciadas. Se a posição fronteiriça chegou a ser um fator de dinamismo, em parte, pelas práticas de contrabando, garantindo maiores densidades populacionais nesses territórios, o esvaziamento populacional e a excentricidade face aos centros de dinamismo económico e sociopolítico do país, deixaram evidente o despovoamento e a concentração das maiores densidades nos polos urbanos do eixo Castelo Branco – Fundão – Covilhã (Figura 1).
Figura 1. Densidade populacional, em 1950 e 2021 (Instituto Nacional de Estatística, 1952 e 2023; Direção-Geral do Território, 2019).
A análise dos resultados dos Recenseamentos da População e do Recenseamento Agrícola, apresentadas de forma detalhada nos temas “Demografia” e “Setores de atividade”, demonstram uma área que, desde 1950, se carateriza por:
- uma perda de população, com a concentração dos maiores efetivos populacionais nos centros urbanos de Castelo Branco, Covilhã e Fundão;
- um envelhecimento demográfico, que se reflete na diminuição da população em idade ativa;
- uma perda da hegemonia da atividade agrícola, com o setor primário a representar menos de 15% da população empregada, em 2021;
- crescente terciarização da economia, com a importância do emprego nos serviços públicos a estruturar o mercado de trabalho.
No entanto, a vocação agrícola destes territórios mantem-se, com uma elevada percentagem de explorações agrícolas especializadas na produção vegetal (cerejeira, castanheiro e outros frustos frescos e oliveira) ou animal (ovinos e caprinos ou bovinos para carne). Mas, a atividade produtiva demonstra-se pouco vantajosa. As explorações, atualmente, têm uma dimensão económica muito pequena, a mão-de-obra agrícola trabalha a tempo parcial e é, sobretudo, uma mão de obra familiar. Verifica-se um envelhecimento dos produtores agrícolas singulares, que apresentam baixos níveis de escolaridade e, raramente, têm formação específica na área agroflorestal.
BIBLIOGRAFIA
Fernandes, J. e Alves. C. (2015). Entre a harmonia e o conflito territorial: a nova ruralidade portuguesa. in Boletim Goiano de Geografia. 35(1). pp. 1-20. Disponível em: https://revistas.ufg.br/index.php/bgg/article/view/35481, consulta a 11 de agosto de 2022.
Instituto Nacional de Estatística (1952) IX Recenseamento Geral da População. Tomo II. Lisboa: Instituto Nacional de Estatística.
Instituto Nacional de Estatística (2023) População residente (N.º) por Local de residência (à data dos Censos 2021), Sexo, Grupo etário e Escalão de dimensão populacional (do lugar). https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0011791&contexto=bd&selTab=tab2.