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Demografia
PERDA DE POPULAÇÃO
A perda de população, associada a um envelhecimento demográfico, apresenta-se como uma tendência que marca as áreas de baixa densidade de matriz rural do território português, sendo mais vincada nos espaços de posição mais excêntrica, como aqueles onde recai este estudo. O processo de êxodo rural fez-se, num primeiro momento, para além dos fluxos de emigração, em direção à faixa litoral, adensando a malha urbana e aumentando as densidades, principalmente, entre Viana do Castelo e Setúbal. Numa segunda fase, o processo de litoralização deu lugar a uma saída espacialmente mais confinada: verificou-se uma migração da população dos espaços rurais para os centros urbanos subregionais, normalmente sede de concelho.
Essas dinâmicas traduziram-se, no conjunto das freguesias da área em estudo, numa perda de 42,6% da população residente, entre 1950 e 2021, registando, nesse último ano, um total de 144091 habitantes. O período de maior quebra ocorreu até à década de 1970, tendo-se registado em 20 anos uma diminuição de 63456 indivíduos, ou seja, uma perda de 25,3% da população residente em 1950. Nesse período, enquanto a população residente em territórios urbanos[1]se manteve (variação 1950-1970 = -0,4%), nos espaços rurais a saída de habitantes foi evidente, com uma diminuição de, aproximadamente, 38% da população.
O ano de 1970 marca, de forma efetiva, a diferença entre a evolução demográfica dos territórios urbanos e rurais na área de incidência do Programa Integrado de IC&DT CULTIVAR. As freguesias predominantemente rurais mantiveram uma perda continuada de população até 2021, embora com menor quebra: durante cerca de 50 anos (1970-2021) ocorreu uma diminuição de 52% dos residentes; relembre-se que, nos primeiros 20 anos do período em análise, esse valor foi de, praticamente, 40%. Por seu turno, nas áreas urbanas registou-se um aumento de população desde 1970. Desse ano e até 2021, esses territórios viram o seu número de residentes aumentar em 11,4%. Por consequência, as áreas urbanas concentravam, em 2021, 66% da população residente na área em estudo (Figura 1).
Figura 1. Evolução da população residente na área em estudo, segundo a tipologia dos espaços (urbano e rural), de 1950 a 2021 (Instituto Nacional de Estatística, 1952, 1964, 1973, 1983-a, 1983-b, 1993, 2002, 2012, 2023).
Todavia, o aumento da população nos espaços urbanos não foi generalizado a toda a área em estudo. De facto, apenas nos concelhos do Fundão (26,9%) e Castelo Branco (86,1%) se registou um acréscimo populacional entre 1950 e 2021. Nos restantes concelhos, ocorreu, também, uma diminuição da população em espaço urbano, embora as perdas populacionais tenham sido inferiores, em comparação com os espaços rurais. É possível perceber, ainda, que os concelhos com uma posição mais fronteiriça perderam mais habitantes que os concelhos no setor oeste da área de estudo (Figura 2). Em causa, encontra-se, também, o facto de esse setor ser marcado pelo eixo urbano Castelo Branco – Fundão – Covilhã, que se estende, para norte em direção à cidade da Guarda, conferindo-lhe maior dinamismo e atratividade.
Figura 2. Variação da população residente, nas freguesias da área de estudo, segundo o concelho e a tipologia das áreas (urbano e rural), entre 1950 e 2021 (Instituto Nacional de Estatística, 1964 e 2023).
Perante o atrás descrito, e considerando a escala da freguesia, quase todas as freguesias da área em estudo (95%) registaram perda de população entre 1950 e 2021. Dessas, cerca de 20% (22 freguesias) perderam pelo menos 80% da população nesse período. A manutenção ou aumento do efetivo de residentes circunscreveu-se a 6 freguesias, distribuídas pelos concelhos de Castelo Branco, Fundão e Covilhã, afirmando a concentração dos maiores efetivos populacionais no setor oeste da área em análise. Enquanto no caso de Castelo Branco e Fundão, foi nas freguesias sede de concelho que se registou o maior incremento (mais do dobro da população no primeiro caso e cerca de um quarto no segundo), no caso do concelho da Covilhã assistiu-se a um aumento populacional associado ao alargamento da área urbana para sudeste, com principal destaque para a variação demográfica da freguesia de Boidobra (93,8%) (Figura 3).
Figura 3. Variação da população residente nas freguesias da área de referência, entre 1950 e 2021 (Instituto Nacional de Estatística, 1952 e 2023).
Esse incremento populacional repercute-se no atual padrão de distribuição da população, sendo nesses centros urbanos que se concentram os territórios mais populosos. As freguesias sede dos concelhos de Fundão, Covilhã e Castelo Branco são as únicas que, em 2021, tinham mais de 10000 habitantes. Nos restantes concelhos, esses valores não iam além dos 3550 residentes, destacando-se a freguesia de Penamacor pelo valor mais baixo (1444 indivíduos). Apenas um quarto das freguesias em estudo, em 2021, tinha mais de 1000 habitantes e cerca de 20% tinha um efetivo populacional inferior a 300 indivíduos. Comparativamente, em 1950, 88,3% das freguesias tinha, pelo menos, 1000 residentes e o menor efetivo populacional balizava-se nas 640 pessoas (Figura 4).
Figura 4. População residente, nas freguesias da área em estudo, em 1950 e 2021 (Instituto Nacional de Estatística, 1952 e 2023).
Em síntese, foram, de forma geral, as freguesias sede de concelho, ou as coincidentes com áreas de expansão urbana, que assinalaram acréscimos nos totais populacionais, sobretudo pela disponibilidade de mais emprego e oferta mais diversificada de serviços, destacando-se atualmente pela maior concentração populacional. Este efeito de atratividade teve mesmo reflexos nas freguesias de concelhos vizinhos, com menor dinâmica económica, os quais registam uma perda significativa da população residente, como é o caso dos concelhos de Sabugal, Penamacor e Idanha-a-Nova.
ENVELHECIMENTO DEMOGRÁFICO
A emigração e o êxodo rural favoreceram a saída da população jovem, o que contribuiu diretamente para o envelhecimento populacional, promovendo quebras acentuadas nas taxas de fecundidade e natalidade, e um aumento na proporção de idosos. Para além disso, o aumento da esperança média de vida veio contribuir para reforçar a tendência de envelhecimento demográfico.
Considerando o conjunto dos concelhos que têm territórios inseridos na área de incidência do Programa Integrado de IC&DT CULTIVAR, verifica-se uma inversão da pirâmide etária de 1950 para 2021. À perda de efetivos populacionais associou-se uma redução das camadas mais jovens da população (-20,4% da população residente com idades entre os 0 e os 14 anos) e um engrossar das faixas etárias do topo da pirâmide (+25,1% de residentes com 65 e mais anos de idade) (Figura 5).
Figura 5. Pirâmide etária do conjunto dos concelhos que têm territórios na área de estudo: variação entre 1950 e 2021 (Instituto Nacional de Estatística, 1952 e 2023).
Porém, face à dinâmica demográfica atrás descrita, embora seja evidente a tendência de envelhecimento populacional em todos os territórios, verifica-se uma diferenciação na sua distribuição geográfica. Assim, no geral, os concelhos do setor leste da área em estudo e/ou sem presença de centros urbanos de atratividade sub-regional – Idanha-a-Nova, Penamacor, Sabugal, e Vila Velha de Ródão – apresentaram os maiores aumentos da proporção da população com 65 e mais anos de idade, variando entre os 35% e os 38% (Figura 6).
Figura 6. Proporção da população residente por grande grupo etário, nos concelhos que têm territórios na área em estudo, em 1950 e 2021 (Instituto Nacional de Estatística, 1952 e 2023).
A perda da população das classes etárias mais baixas e o ganho de importância das camadas populacionais de idade mais avançada reflete-se no índice de envelhecimento (IE). Assim, os valores relativamente baixos do índice de envelhecimento populacional de 1950, no conjunto dos concelhos onde incide o estudo (IE = 24), foram substituídos por valores progressivamente mais elevados que acentuaram as diferenças entre estes dois grupos populacionais, nesses territórios. Em 2021, no total, por cada 100 jovens (até aos 14 anos) existiam cerca de 317 idosos (população com 65 e mais anos). Os maiores aumentos verificaram-se nos concelhos de Sabugal (IE 2021 = 625,5, +603 que em 1950) e Penamacor (IE 2021 = 670, +634 que em 1950), que passaram a ser os concelhos com maior índice de envelhecimento no contexto da área em análise. Por sua vez, os concelhos de Castelo Branco (IE 2021 = 250) e Covilhã (IE 2021 = 287) tinham os menores valores, em 2021, mesmo assim, existindo mais do dobro de idosos por cada grupo de indivíduos com menos de 15 anos de idade (Figura 7).
Figura 7. Índice de envelhecimento, nos concelhos que têm territórios na área em estudo, em 1950 e 2021 (Instituto Nacional de Estatística, 1952 e 2023).
Essa diferenciação prende-se com as dinâmicas de êxodo rural e a importância dos centros urbanos com capacidade polarizadora na sub-região. Efetivamente, uma análise de maior pormenor, permite perceber que as freguesias dos centros urbanos apresentavam, em 2021, menores índices de envelhecimento, sendo facilmente individualizado o eixo urbano Covilhã-Fundão- Castelo Branco. De facto, parece ser o grau de urbanidade que determina a variação deste indicador, mais que a posição geográfica. Assim, mesmo nos concelhos de posição mais fronteiriça as freguesias sede de concelho, e algumas freguesias adjacentes, surgem com valores mais baixos do índice de envelhecimento (Figura 8).
Figura 8. Índice de envelhecimento, nas freguesias da área em estudo, em 2021 (Instituto Nacional de Estatística, 2023).
O envelhecimento demográfico acarreta um conjunto de consequências económicas e sociais. No primeiro grupo é possível destacar a potencial falta de mão de obra para laborar no mercado de trabalho local, criando, por consequência, constrangimentos à garantia das atividades económicas. Apesar das alterações não serem, ainda, muito significativas, começa já a verificar-se uma diminuição do peso da população em idade ativa (indivíduos dos 15 aos 64 anos de idade). Assim, se, em 1950, 62,1% da população residente nos concelhos atrás mencionados se encontrava em idade ativa, em 2021, esse valor reduziu para os 57,4%. A maior perda verificou-se no concelho de Vila Velha de Ródão (-18,4%), seguindo-se os concelhos de Idanha-a-Nova e Penamacor (-13%, aproximadamente) (Figura 6).
A distribuição geográfica do peso da população em idade ativa no total de residentes em cada freguesia demonstra quase que uma inversão do comportamento do índice de envelhecimento. Assim, as freguesias do eixo urbano Covilhã-Fundão-Castelo Branco destacam-se com a maior concentração de indivíduos com idades entre os 15 e os 64 anos (mais de 60% dos residentes). Há, depois, uma perda gradual da proporção de indivíduos em idade ativa dos espaços urbanos, sede de concelho, para os espaços mais intersticiais, salientando-se a concentração de casos com valores inferiores a 30% em freguesias dos concelhos de Sabugal e Idanha-a-Nova (Figura 9).
Figura 9. Proporção da população residente em idade ativa (15 a 64 anos), nas freguesias da área em estudo, em 2021 (Instituto Nacional de Estatística, 2023).
BIBLIOGRAFIA
Instituto Nacional de Estatística (1952) IX Recenseamento Geral da População. Tomo II. Lisboa: Instituto Nacional de Estatística.
Instituto Nacional de Estatística (1964) X Recenseamento Geral da População. Tomo I. Vol. 1. Lisboa: Instituto Nacional de Estatística.
Instituto Nacional de Estatística (1973) 11º Recenseamento da População. Estimativa a 20%. Vol. 1. Lisboa: Instituto Nacional de Estatística.
Instituto Nacional de Estatística (1983-a) XII Recenseamento Geral da População. II Recenseamento Geral da Habitação Resultados Definitivos – Distrito Castelo Branco. Lisboa: Instituto Nacional de Estatística.
Instituto Nacional de Estatística (1983-b) XII Recenseamento Geral da População. II Recenseamento Geral da Habitação Resultados Definitivos – Distrito Guarda. Lisboa: Instituto Nacional de Estatística.
Instituto Nacional de Estatística (1993) Censos 91. Resultados Definitivos – Região do Centro. Lisboa: Instituto Nacional de Estatística.
Instituto Nacional de Estatística (2002) Censos 2001. Resultados Definitivos - Centro. Lisboa: Instituto Nacional de Estatística.
Instituto Nacional de Estatística (2012) Censos 2011. Resultados Definitivos - Centro. Lisboa: Instituto Nacional de Estatística.
Instituto Nacional de Estatística (2023) População residente (N.º) por Local de residência (à data dos Censos 2021), Sexo, Grupo etário e Escalão de dimensão populacional (do lugar). https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_indicadores&indOcorrCod=0011791&contexto=bd&selTab=tab2.
[1] Para a comparação entre espaços urbanos e rurais adotou-se a classificação das freguesias da área de estudo segundo a Tipologia das Áreas Urbanas disponibilizada pelo Instituto Nacional de Estatística, em 2009. Assim, consideram-se, aqui, espaços urbanos as freguesias classificadas como Áreas Predominantemente Urbanas ou Mediamente Urbanas e como espaços rurais as freguesias classificadas como Áreas Predominantemente Rurais.